O livro 200 anos de Independência – a indústria e o futuro do Brasil, editado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi destaque em um concorrido evento cultural realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN) e pelo Serviço Social da Indústria (SESI) do estado, na quinta-feira (1º) no SESI Solar Bela Vista, em Natal. Na oportunidade, o escritor e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), Cristovam Buarque, que fez a curadoria da publicação, proferiu uma palestra sobre os desafios do Brasil para se tornar uma nação economicamente sustentável e socialmente justa.
Após a palestra, o evento foi animado por um quarteto da SESI Big Band. A CNI foi representada no evento pelo Superintendente de Jornalismo José Edward Lima.
Em sua palestra, Cristovam Buarque destacou, entre outros, a importância do fortalecimento da indústria nacional para que o Brasil retome a rota do crescimento econômico. “Nestes dois séculos de independência, nós conseguimos construir um parque industrial que está entre os mais modernos e diversificados do mundo. Mas é preciso haja um maior fortalecimento do setor e, para isso, é fundamental a redução do Custo Brasil e um aumento expressivo em inovação, para que o país se conecte à era do conhecimento”, afirmou.
“A educação é a chave para o futuro. E o SESI e o SENAI têm um papel fundamental nesse processo, sobretudo na preparação dos jovens para o novo mundo do trabalho”.
Ele aproveitou a palestra de apresentação da obra para também destacar o movimento que chamou de “educacionista”, uma mobilização que educação de qualidade para crianças, jovens e adultos que ainda não foram alfabetizados, independentemente de renda. A defesa de um salto de qualidade no ensino foi feita durante a palestra na qual Cristovam Buarque, que foi ministro da Educação, fez uma exposição sobre o livro, que em 164 páginas discute avanços e desafios do país.
Cristovam Buarque é o curador da obra que é dividida em cinco capítulos e reúne 22 artigos, com reflexões feitas por especialistas e lideranças políticas e empresariais. Os artigos foram compilados a partir de um ciclo de seminários realizados pela CNI no primeiro semestre deste ano.
Entre os articulistas, estão ex-presidente Michel Temer, a empresária Luiza Helena Trajano e a historiadora Lilia Schwarcz. Os artigos fazem análises da trajetória da indústria brasileira, ao longo dos últimos dois séculos, desde a proclamação da Independência. Além disso, traçam desafios e perspectivas para as próximas décadas.
Na sequência dos capítulos do livro, o último texto é um ensaio do próprio Cristovam Buarque no qual ele destaca “as janelas de oportunidades e as missões para o terceiro século de independência”.
Brasil acumula realizações e desafios nesses 200 anos
O ex-senador cita o que considera as principais realizações do país desde nos 200 anos: território integrado, história quase sem guerras, triunfo da democracia, parque industrial moderno, conquista do Centro-Oeste, celeiro do mundo (com o agronegócio), democracia, parque industrial moderno, avanços na educação e pesquisa, produção cultura rica, patrimônios da humanidade e avanços sociais.
Mas, no ensaio, também aponta “fracassos” deste período: persistência da pobreza, permanência do analfabetismo, insalubridade pública, desigualdade da educação, concentração de renda e benefício, instabilidade da moeda, desigualdade regional, baixa produtividade, mentalidade perdulária, armamentismo, racismo estrutural, chaga da corrupção, caos urbano, insustentabilidade ambiental, estado ineficiente, limitação na ciência, instabilidade social.
Cristovam Buarque afirmou que o país tem “missões e desafios”, entre as quais citou integração eficiente e soberana na globalização. Para ele, é preciso também acabar com os “bolsões de pobreza”. “O Brasil deve enfrentar o desafio de sair da posição de campeão em concentração de renda”, disse. Isso, defendeu, só será possível com aumento da produtividade.
“É impossível erradicar a pobreza e distribuir bem renda sem aumento da produtividade, especialmente no setor industrial”. Ele acrescentou a necessidade de um sistema nacional de tecnologia e inovação, o aproveitamento das circunstâncias favoráveis às commodities, além de políticas favoráveis ao desenvolvimento sustentável. Ele ressaltou que um salto na educação é crucial.
“Se for para continuar avançando lentamente, basta continuar com o Fundeb, o piso salarial do professor, o livro didático, mas isso não vai deixar o Brasil educado como precisa. Para um salto, a educação deve ser considerada uma questão nacional. É preciso garantir que os municípios tenham condições para isso. O Ministério da Educação deveria ser o Ministério da Educação de Base. É necessária uma estratégia para federalizar a educação de base”, apontou.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez o lançamento do livro, nacionalmente, em setembro deste ano, durante solenidade em Brasília, na sede da instituição. “Esse é um momento muito oportuno para refletirmos sobre a trajetória do Brasil e sobre os desafios que temos de enfrentar para construirmos uma nação economicamente mais próspera, socialmente justa, tecnologicamente mais avançada e ambientalmente sustentável”, afirmou, na ocasião, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
Repercussão
O presidente da FIERN e do Conselho Regional do SESI-RN, Amaro Sales de Araújo, afirmou que a presença de Cristovam Buarque, em Natal, para o lançamento do livro no Estado, ressalta aspectos dos 200 anos de história que fez um importante registro sobre o período histórico e as perspectivas a partir das missões ao país e, particularmente, à indústria.
Para Amaro Sales, com a vivência do ex-ministro e ex-senador, a análise sobre a educação do país e os caminhos para avanços nessa área, são importantes. Ele acrescenta que o Sistema FIERN tem atuado para dar sua contribuição neste aspecto. “A FIERN tem trabalhado fortemente na educação. Temos a Escola SESI, que é referência, a Indústria do Conhecimento, com cinquenta unidades no Estado, então há uma ação efetiva nessa área”, destacou, ao comentar o lançamento do livro, em evento com a presença dos diretores da FIERN, gestores, reitores das universidades, secretários de Estado e autoridades militares.
“A palestra de Cristovam Buarque e o livro reforçam que nestes dois séculos a população brasileira teve enormes conquistas, com a própria democracia, mas apresentam também ‘erros e fracassos’ e, no resumo, destaca que a educação é tudo para o país”, analisa o diretor primeiro tesoureiro da FIERN, Roberto Serquiz, eleito presidente para o mandato 2023-2027.
Ele disse que isso reforça o papel de um ensino de qualidade e da formação profissional. “Podemos citar a Escola SESI em São Gonçalo do Amarante como um exemplo, uma vez que tem um padrão de excelência”, acrescentou Serquiz.
O superintendente do SESI-RN, Juliano Martins, avaliou que o lançamento do livro que aborda os 200 anos da Independência do país, no Solar Bela Vista, foi particularmente significativo, porque se trata um espaço que preserva a cultura e a história da cidade. “É gratificante para o SESI do Rio Grande do Norte proporcionar este lançamento no Solar, com a presença do curador da obra, que faz essa reflexão histórica, ao mesmo tempo em que enumera aspectos que são fundamentais para ajudar o país e mudar a realidade no sentido de termos avanços e, para isso, como ele afirmou, a educação é essencial”, ressaltou.
O estudante João Dallas Sales Brasil, neto de Amaro Sales, disse que a palestra de Cristovam Buarque foi relevante para a compreensão da história destes dois séculos do país. “Acredito que compreender um momento histórico, ao chegarmos aos 200 anos da Independência, é muito importante, porque precisamos entender o passado, para conhecermos melhor o presente e termos uma perspectiva de futuro. Ele desenvolve essas ideias muito bem”, afirmou. Para João Dallas, os pontos que sobressaíram nas palavras do ex-senador foram a ênfase da defesa do combate à pobreza e a proposta para a educação.
SESI Solar Bela Vista foi todo restaurado
Com um dos mais bonitos e antigos conjuntos arquitetônicos existentes em Natal, o Solar Bela Vista foi totalmente restaurado pelo SESI. As obras foram entregues em abril deste ano.
Construído na primeira década do século XX pelo coronel Aureliano Medeiros, o casarão, que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) trouxe beleza e inovações para a Natal da época. Após a morte do militar, o imóvel já foi hotel e sede – temporária – do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte.
Nos anos 1980, durante a gestão do então presidente Fernando Bezerra, o Sistema FIERN adquiriu o imóvel e fez a primeira grande restauração, com supervisão da Fundação José Augusto (FJA). De lá para cá, o local é o braço cultural do SESI-RN. À época, funcionava uma escola de música, um auditório e salas de leitura.
A mais recente reforma do Solar surgiu após um projeto levado pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN), Amaro Sales, à Confederação Nacional da Indústria (CNI) e ao Conselho Nacional do SESI em um investimento de R$ 650 mil.